VOCÊ SABE O QUE É GORDOFOBIA?
Gordofobia é um preconceito que agride psicologicamente ou fisicamente pessoas gordas, seja quando a violência a exclui, segrega ou inviabiliza. As agressões podem ser feitas tanto de forma direta, no uso de palavras pejorativas para falar sobre o corpo de outra pessoa, ou de maneira indireta, através da falta de bancos acessíveis nos transportes públicos, por exemplo.
Como decorrência da pressão estética, que dita quais corpos são aceitos em sociedade, este é um problema estrutural que varia entre cada contexto, por influência do sistema econômico, cultura, infraestrutura e outros fatores.

O corpo gordo já foi anteriormente melhor aceito pela sociedade, como é o exemplo da Europa entre os séculos XVI e XVIII. Não apenas era um sinônimo de beleza, mas também de riqueza e nobreza. Hoje, no contexto do ocidente, os sinônimos de beleza, saúde e até boa moral são apenas atribuídos aos corpos magros. Basta uma rápida procura nas mídias sociais, revistas, programas de televisão, propagandas e assim por diante.
Segundo pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizada em março de 2022, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são obesas
650 milhões de adultos
340 milhões de adolescentes
39 milhões de crianças
ALÉM DA SUPERFÍCIE
EXPECTATIVA 2025

700 milhões de adultos

2,3 bilhões de adultos
ACIMA DO PESO
COM OBESIDADE
Ao olhar para o contexto nacional, a partir de dados de 2019, podemos ter um panorama mais específico sobre as pessoas gordas no Brasil. Os dados a seguir são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que captou resultados de pessoas a partir dos 18 anos de idade.
OBS: NÃO FORAM CONTABILIZADAS PESSOAS QUE NÃO SE IDENTIFICAM COM OS DOIS GÊNEROS
DÉFICIT DE PESO

2215 total
1112 MULHERES
1104 HOMENS
95901 total

EXCESSO DE PESO
52002 MULHERES
42899 HOMENS
OBESIDADE

41230 total
24978 MULHERES
16252 HOMENS
Para pessoas que não estão enquadradas no padrão aceito em um determinado contexto, o convívio social é algo que pode trazer diversos empasses tanto físicos quanto psicológicos. Por mais que, com a evolução dos meios digitais, exista maior presença de conteúdos de empoderamento dos corpos invisibilizados, infelizmente a discriminação e o preconceito ainda estão presentes. Além disso, um dificultador é o fato de, no Brasil, a gordofobia não se encaixar como um crime, mas pode ser enquadrada por injúria e danos morais.
Com objetivo de compreender mais detalhadamente o cenário brasileiro, em fevereiro de 2022, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), em parceria com a Sociedade Brasileira de Metabologia e Endocrinologia (SBEM), realizou uma pesquisa sobre gordofobia e obesidade no Brasil.

POLO
MAGNÉTICO
Foram entrevistados mais de 3.600 brasileiros de 18 a 82 anos, destes, 88% tem excesso de peso e 37% obesidade grau 3.
a estimativa é que oito em cada 10 dessas pessoas relataram sentir constrangimento ou ser vítima de discriminação por conta do peso.
Das pessoas gordas entrevistadas, 85,3% relataram terem sido vítimas de gordofobia
Falar sobre o corpo gordo é muito mais do que falar somente sobre aparência ou saúde. Segundo a mestra em psicologia, Vanessa Branco, é possível pensar o que é o corpo gordo a partir de diferentes perspectivas. Como argumenta, a primeira camada que pode ser reavaliada é a patologização dos corpos gordos.
Como uma pessoa gorda que milita por essa causa, Vanessa propõe que na discussão é possível dividir entre pessoas gordas menores e maiores. A primeira, por mais que não sejam lidas como magras ou saudáveis, pessoas gordas menores possuem maior “passabilidade”, ou seja, maior aceitação em sociedade. Já para pessoas gordas maiores, a gordofobia é mais frequente. “Essas pessoas não conseguem, por exemplo, passar por uma catraca de ônibus, encontrar uma roupa que sirva, sentar na cadeira da universidade, do trabalho e às vezes nem consegue sentar em um espaço de saúde”, descreve a psicóloga.
Por mais que as pessoas gordas já sofram em diferentes espaços, dentro desta população existem corpos mais ou menos aceitos. Um exemplo disso é a representatividade na mídia, como é o caso da indústria da moda. Como Vanessa enfatiza, por mais que a presença de pessoas magras seja prevalência, também há um padrão esperado para quando aparecem pessoas gordas.
Recortes

Como psicóloga clínica há cinco anos, seu principal público que consulta é de mulheres gordas. Os colegas de sua profissão, como Vanessa percebe, não estão preparados para lidar com pessoas gordas, um conhecimento que não é apresentado durante a formação. Sofrer gordofobia, tanto psicologicamente quanto fisicamente, é uma violência que pode causar amplos prejuízos, muitas vezes uma tarefa difícil para o profissional delimitar todos os diagnósticos, justamente por ser complexo e único para cada caso. Por conta disso, para que exista maior conteúdo sobre o assunto, a psicóloga busca produzir conteúdos científicos para as universidades, para que a realidade não continue a mesma.

"Os corpos são diversos, e só vamos aprender sobre essa diversidade quando estamos em contato um com o outro. Quaisquer que sejam os corpos, estes estão sempre em mudança, seja no peso, no tamanho da barriga, na altura ou outras partes do corpo. É algo transitivo."
"Ser gordo é uma existência que passa por uma série de discriminações, preconceitos e estigmas. Agora, a existência gorda é muito mais do que isso, são pessoas que amam, existem, são belas também, e que estão lutando para poder existir da forma que é, o corpo gordo não é um corpo em transição, não é um corpo vir a ser, vir a morrer de tanto gorda ou emagrecer para ficar saudável, o corpo gordo É."

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